Agressão a jornalistas: assassinato à informação*

Agressão a jornalistas: assassinato à informação*

O ofício de jornalista não raramente é encarado por parte da população como algo perigoso. Não é necessário mais do que dois dedos de prosa com um grupo de amigos para alguém dizer que soa loucura enfrentar prefeitos, policiais, entre outras personalidades – principalmente as que trabalham em prol do povo – para o único fim de tornar pública uma informação.

Dados da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), apresentados durante o “Seminário Internacional sobre Violência contra Jornalistas”, realizado em outubro, em São Paulo, confirmam este paradigma e revelam uma realidade ainda mais assustadora: há uma década profissionais da mídia morrem semanalmente e mesmo assim nada de efetivo é realizado no sentido de evitar esta situação.

Mas quem perde com isso não é apenas o jornalista, que tenta fugir de um cenário de mordaça para não ferir a credibilidade do trabalho. O cidadão, que lê o jornal, assiste a TV, escuta a rádio e sapeia de site em site na internet também acaba atingido. Isso ocorre pois, se o comunicador é ameaçado e barrado – seja judicialmente com censura prévia ou por meio de agressões – é a população que terá o direito à informação anulado e será privada de ter acesso aos assuntos de interesse público.

Colocar uma venda no povo brasileiro – que vive num processo democrático bem diferente do regime militar de 1964 – dificilmente seria aceito nos tempos atuais. Há uma força contra a censura e sede por liberdade dentro da maioria dos brasileiros, que não os permitem viverem num ambiente aquém de informação verdadeira.

O jornalista, portanto, enfrenta perigo em seu ofício, pois integra uma das mais evidentes forças de constante vigília, para tentar garantir os direitos à expressão e comunicação conquistados após a queda da ditadura.

E o enfrentamento desta situação cabe ao profissional da mídia e a mais ninguém. Afinal, a população daria conta de deixar os afazeres para fiscalizar as ações do Executivo, Legislativo e Judiciário? O cidadão pararia as responsabilidades domésticas e de trabalho para vasculhar diários oficiais, participar de reuniões e eventos de variados aspectos, investigar a conduta de policiais, entre inúmeras outras ações?

É claro que não. Assim como as infinitas funções realizadas por toda a sociedade são importantes para que o mundo ganhe forma e consiga progredir, o jornalista tem igual importância para levar informação ao povo e atuar na formação de opinião.

O profissional que trabalha na mídia não é inimigo do governo ou da polícia. Mas, sim, um personagem que possui a única função de informar o que é verdade, independente do que os fatos revelem. E precisa de cooperação, entendimento e proteção de toda a sociedade para que saia um trabalho bem feito.

Para saber:

O “Seminário Internacional sobre Violência contra Jornalistas” citado neste artigo aconteceu no dia 21 de outubro de 2013, no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo, promovido pela comissão organizadora do 35º Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. As mesas de debate ocorreram das 8h30 às 18h.

O evento teve a presença de jornalistas e outros profissionais de dentro e fora do Brasil, unidos para discutir o tema relativo à agressão a profissionais da mídia, assunto que é alarmante em escala nacional e mundial. Os depoimentos de profissionais que sofreram na pele a violência foram expostos no seminário.

A jornalista mexicana Anabel Hernándes, que sofreu um atentado em cobertura do narcotráfico no país e o jornalista paranaense Mauri König, que ficou entre a vida e a morte após a cobertura de tráfico de drogas na fronteira Brasil e Paraguai, deram depoimentos durante o evento.

Ambos ressaltaram, porém, que apesar de todo o enfrentamento e riscos, o jornalismo vale a pena. “O que falta é mais apoio e mais proteção em todo o mundo. A situação no México, por exemplo, é bem complicada em termos de violência a jornalistas. Oxalá que o Brasil ganhe em política de proteção e não chegue a este nível. E que o México mude também”, opina Anabel.

Discutir meios de proteção ao jornalista no país e no mundo foi um dos pontos mais abordados durante o evento. O ouvidor nacional dos Direitos Humanos da Presidência da República Bruno Renato Teixeira destacou, durante o evento, a necessidade efetiva de garantir a proteção dos profissionais da mídia por respaldo estatal.

Já a advogada Taís Gasparian (foto) falou sobre a importância de proteger o jornalista de um outro segmento da mordaça, que é a censura prévia. “É inconstitucional querer submeter a regras de silêncio os profissionais que devem informar. É preciso estudar as situações e tentar lutar contra isso.”

* Confira os dados e entrevistados locais, nacionais e internacionais na reportagem completa em dezembro, um dos cinco projetos integrantes deste TCC e que terá circulação no caderno Ponto Final, do Jornal de Piracicaba. Novidades em breve nas redes sociais do Cobertura.

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